CS:GO, LoL, Dota 2, Free Fire… É muito provável que você já tenha jogado ou pelo menos escutado falar desses jogos. Eles fazem parte dos chamados esportes eletrônicos, ou simplesmente esports, uma variedade de games competitivos que possuem campeonatos mundo afora, viraram uma verdadeira febre nos últimos anos e movimentam uma indústria milionária!
Para entender melhor sobre esse fenômeno e especialmente sobre a presença de garotas dentro dos esports, conversamos com quatro profissionais da área, de diferentes segmentos, que têm muito a dizer sobre o tema. Vem conferir!

Foto: Reprodução/Instagram @camyyfps
Garotas nos games
É impossível negar que desde que os games se popularizaram e se tornaram parte do dia a dia dos brasileiros, a ideia de que essa indústria era feita por e para garotos sempre foi muito forte. No entanto, o que a história e a evolução dos jogos eletrônicos nos mostra não é exatamente isso.
“Nos anos 90, nós tivemos um problema de marketing que direcionou o público-alvo dos games para crianças e meninos. Esse preconceito ficou enraizado em nós e até hoje temos essa concepção errada. Na realidade, o público feminino está dentro dos games e dos esports de forma maciça”, explica Barbara Gutierrez, editora do Versus, site especializado em esports.
Na prática isso quer dizer que apesar da presença de garotas na área, por muito tempo fomos tratadas de forma quase invisível no cenário, uma visão que só começou a mudar recentemente, com a presença cada vez mais incontestável de mulheres na indústria.

O primeiro campeonato oficial de esports de que se tem notícia, o Space Invaders Championship, foi vencido por uma mulher, a americana Rebecca Heineman. Isso em 1980! – Foto: Reprodução/Reddit namraka
No mundo dos esports
Quando o assunto são esportes eletrônicos, a participação de garotas, seja como consumidoras ou profissionais, é ainda mais relevante, especialmente se levarmos em conta o fato de que essa indústria milionária é muito jovem. Essas meninas vêm crescendo junto com a cena e ocupando um espaço dentro dela que dificilmente alguém vai fingir não notar.
Além de Barbara Gutierrez, a apresentadora Camilota XP, a jogadora de CS:GO Camyy e a repórter Tawna são alguns nomes nacionais dos esportes eletrônicos que merecem destaque. Elas são grandes profissionais e representam milhares de consumidoras, jogadoras, desenvolvedoras, apresentadoras, jornalistas e streamers que buscam reconhecimento.
“Quando comecei eu não sabia de mais nenhuma outra garota que trabalhava com isso. Eu mal acreditava que isso poderia virar uma profissão, mas com o passar do tempo conheci outras mulheres que já faziam parte do mercado, e isso foi me dando força pra continuar e melhorar ainda mais“, conta Camila.
Quatro meninas, quatro histórias diferentes
- Barbara Gutierrez tem 26 anos e é editora do Versus, maior site de esports do Brasil. Seu interesse por games vem desde pequena, especialmente quando seu pai abriu um fliperama na cidade em que morava. Anos depois descobriu e se encantou pelo jogo Dota e, já na faculdade, junto com alguns amigos, criou um blog de comunidades especializado no seu sucessor, o Dota 2 – Foto: Reprodução/Instagram @bahgutierrez
- Com seu nome e trabalho cada vez mais reconhecidos, foi chamada para ser produtora de conteúdo na agência X5. Depois disso passou pelas redações do Omelete – na seção de esports do site -, do IGN Brasil e do UOL Jogos. Convidada para ser editora assistente do Versus, pediu para confiarem nela e a deixarem como editora chefe. Assumiu o cargo e quase dois anos depois comanda uma equipe 50% feminina – Foto: Reprodução/Instagram @bahgutierrez
- Camila Silveira Campos, a “Camilota XP”, tem 24 anos, e é streamer, youtuber e apresentadora do “Circuitão”, campeonato nacional de LoL. Na infância e adolescência era fascinada por jogos MMORPGs (jogos de RPG online), mas só quando passou no teste para apresentar o Circuito Desafiante descobriu a “profissão gamer” e passou a acompanhar o mercado – Foto: Reprodução/Twitter @camilotaxp
- Antes de ser apresentadora, Camila fazia dança e aos 16 se apaixonou pelo teatro. Fez parte do Teatro Miguel Falabella, onde realizou cursos e peças, participou de comerciais e novelas na Rede Globo, e fez parte da Oficina de Atores da Cesgranrio. Desde que virou apresentadora, dois anos atrás, se envolveu totalmente com a cena de esports – Foto: Reprodução/Instagram @camilotaxp
- Camila Vicentini Natale, a “Camyy”, tem 28 anos e é jogadora profissional de CS:GO. Interessada pelo jogo desde pequena, ela sempre jogou por diversão com os irmãos e amigos, mas só em 2014 entrou de vez para o cenário competitivo. De lá para cá já passou por times como a Santos Dexterity, INTZ, Alientech (uma organização portuguesa), Innova e paiN Gaming. Atualmente deu um tempo das competições e tem se dedicado a streamar – Foto: Reprodução/Instagram @camyyfps
- Antes mesmo de se profissionalizar, Camyy já experimentou um pouco do machismo do cenário. Durante seis anos ela namorou um garoto que não gostava de vê-la jogando CS:GO, o que fez com que ela não se envolvesse muito com a área e jogasse escondido – Foto: Reprodução/Instagram @camyyfps
- Carol Oliveira, a “Tawna”, tem 23 anos, e é streamer, youtuber, apresentadora de esports e games, e repórter do CBLoL, maior campeonato nacional de LoL. Se interessou por esports por volta dos 17 anos, e começou na área como jogadora da RMA Girls e streamer – Foto: Reprodução/Instagram @tawnaa_
- No começo da carreira, admirava e queria ser como seus ídolos: a apresentadora belga “Sjokz”, o streamer Hi im Gosu e o jogador brasileiro Felipe “brTT”. Não foi fácil, no entanto, convencer os pais de que era possível ganhar dinheiro jogando, mas depois de três anos perseguindo seu sonho foi chamada para trabalhar na Riot Games – Foto: Reprodução/Instagram @tawnaa_
O triste e velho preconceito
Mesmo com as conquistas profissionais, o dia a dia dessas meninas continua sendo atingido pelo machismo enraizado no cenário. Graças ao recente caso da streamer Gabi Cattuzzo, o assunto voltou a ganhar destaque na mídia, mas a verdade é que ainda que barreiras venham sendo quebradas o preconceito com garotas nunca deixou de existir.
“Enfrentei muito machismo quando comecei a jogar. Tanto dentro do jogo quanto no chat da stream. Lembro que as pessoas me xingavam quando eu jogava mal, e quando descobriam que eu era garota, falavam que eu não tinha que estar ali, e sim, lavando louça. Sem contar os ódios gratuitos que eu recebia apenas por ser mulher”, conta Tawna. E ainda complementa. “Já aconteceu de eu ficar super chateada com comentários que me colocavam para baixo, a ponto de fechar a live”.
Para Camyy as coisas também não foram diferentes, apesar de ter aprendido a passar por cima dessas situações. “Hoje, por eu ter um nome um pouco mais conhecido, eu não sofro tanto online, mas no começo não existia essa de você jogar bem ou não. Você podia jogar muito bem que os caras iam te xingar ou você podia jogar mal que os caras iam te xingar. Eu respondia à altura, então não me atingia. Mas existem muitas meninas que se sentem atingidas e isso faz elas pararem”, explica.
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No Instagram da todateen, pedimos que nossas leitoras gamers contassem se elas já haviam passado por algum episódio de machismo ou assédio no meio. As respostas, infelizmente, estão longe de serem animadoras, e muitas delas relataram casos de xingamentos e a necessidade de usar nicks masculinos para não atrair problemas.
Diante de um cenário desses, o que fazer para combater o preconceito? Ainda que seja impossível se chegar a uma resposta definitiva, um bom caminho para isso talvez seja a união feminina, já que apenas com mais garotas dentro do cenário, se apoiando e abrindo portas para as outras que vem por aí, vamos conseguir quebrar essas barreiras.
“É triste falar isso, mas só existe eu de editora chefe no cenário de games. Por que? Eu não quero ser a única, isso não é legal. Eu quero mais!”, desabafa Barbara.
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Como se profissionalizar
Para quem quer seguir carreira dentro dos esportes eletrônicos, aproveitando as oportunidades que finalmente têm se aberto para o público feminino, as áreas de atuação são imensas. “O mercado de esports é gigante, tem desde câmera e contra-regra, pessoal da iluminação, figurinista, maquiadora, controlador de som, edição, etc, até diretores de grandes corporações. Se seu sonho é trabalhar com esports, você tem uma grande gama de portas de entrada para chegar onde você quer”, analisa Camila.
No entanto, como em toda profissão, algumas habilidades são indispensáveis dependendo do campo em que você for atuar. Tawna pontua as principais para ela. “Estudem muito o cenário e tenham uma vasta noção de jogo. Estar bem informada nessa área é o essencial”.
Já para Barbara, quando o assunto é jornalismo focado em esports, existem ainda outras dicas que podem ser usadas. “Faça um blog ou abra uma conta no Medium. Ou se você não curte tanto escrever, e sim apresentar, abra um canal no Youtube! Comece a fazer conteúdo sobre isso, mesmo que seja amador, porque assim você terá um portfólio para mostrar para as pessoas”.
E ressalta algo indispensável: “Você precisa conhecer muitos jogos e ser ultra especializado em um deles. Esse é o seu diferencial. Além do inglês que também é muito importante”.
Prontas para invadir de vez os esports? Vamos juntas ocupar esses espaços!
